domingo, 8 de abril de 2012

" É o meu Guri"



Já se fala em extermínio da juventude negra no Brasil. Em todas as cidades, em todas as favelas, morrem jovens pobres, majoritariamente negros, vítimas de uma sociedade que não lhes oferece nada e lhes cobra muitíssimo. Não há trabalho, não há saúde e não há educação. Em muitos caso, falta até dignidade. Mas precisam ser bons funcionários, pacíficos, fiéis eleitores e, principalmente, seres humanos domesticados. Quando soltam as amarras e se revoltam por condições melhores ou pela garantia dos seus direitos, vem a polícia (extremamente militarizada) e mantém a 'normalidade'. Normalidade doentia essa...

Hoje pela manha ouvi "o meu guri" de Chico Buarque, me veio imediatamente esta cena a cabeça e decidi escrever um pouco sobre isto.

A reflexão feita diante de tal imagem foi concisa e objetiva, porém no atual estado democrático de direito em que vivemos, creio ser possível aprofundar um pouco mais sob tal cena, e ir um pouco mais além a tal reflexão.Ao “lado” dos desvalidos da imagem temos um estado oculto (leia-se mínimo) e  agressor e uma parcela da sociedade que legitima a cena e arremata a sentença conforme o enredo(é a datenização do crime),mas antes de refletir estes pormenores é necessário confrontar a análise inicial: “ Já se fala  em extermínio da juventude negra no Brasil”, não,isto não é real o correto é: “ Já se pratica o extermínio a juventude negra no Brasil”, por quê digo isto?Paulo Freire disse certa vez que enquanto houver um oprimido no mundo suas obras serão válidas, ressalto tal autor que não preciso ir tão longe para elucidar minha afirmativa.O jornalista Caco Barcellos em seu livro Rota 66 apresentou algumas estatísticas quanto a atuação da PM em São Paulo (e sabemos que no RJ não é diferente):
Uma investigação que abrange um período de 22 anos de ação da PM, e revela que a maior parte dos civis mortos pela PM de São Paulo é constituída pelo cidadão comum que nunca praticou um crime: o inocente, (Não que o culpado deva ser executado) Caco Barcellos criou um banco de dados com as pessoas mortas pela PM e o resultado do confronto deste banco de dados com os arquivos da Justiça Civil mostra que 65% das vítimas que foi possível identificar eram inocentes. Outro dado relevante desta investigação é o componente racista que foi observado na ação dos matadores, se confirma no balanço final do Banco de Dados,.que do total de 4.179(A fonte de pesquisa deste total de mortos não é apenas a citada acima, mas também resultados do cruzamento de mais duas fontes judiciárias) vítimas identificadas, foi obtida as informações sobre a cor da pele de 3.944: 1.932 eram brancas e 2.012 negras e pardas, ou seja, a maioria de 51% salienta o autor já demonstra o preconceito contra as pessoas de raça negra e parda, e isto fica mais evidente se for realizado um confronto com os dados demográficos do IBGE sobre a população do município de São Paulo, revela o autor que nas últimas duas décadas do universo de sua pesquisa, os habitantes da capital se dividiam, por raça, na proporção de 74% de brancos para 22% de negros e pardos. Outro fato alarmante identificado pelo jornalista é de que o perfil dos indiciados em inquérito policial baseado nos dados da Fundação Seade não é reflexo dos dados acima, ou seja, os negros e pardos são a minoria entre os criminosos. O assaltante, tipo de criminoso que a PM mais mata, é branco na maioria de 60%.A maior parte dos ladrões e homicidas, 65%, também se constitui de brancos. A proporção cresce entre os criminosos mais odiados pela sociedade: 68% dos estupradores são brancos. O jornalista apresenta as informações sobre o endereço e a profissão das vítimas e revela que a maioria quase absoluta é constituída de pessoas de baixa renda, ou seja, de 3.812 pessoas.assassinadas, os operários e ajudantes de obras da construção civil são os mais visados: 877 foram mortos, representando mais de 20% entre as vítimas da PM.Quase todos moravam em casas simples da periferia da cidade ou da Grande São Paulo.Por número crescente de vítimas, os bairros de Santo Amaro, São Miguel Paulista, Jabaquara, Vila Rica e Itaquera foram os mais atingidos e este Banco de Dados registra 735 vítimas dos matadores nos extremos das zonas leste e sul, regiões onde se concentra a população miserável as capital.Dando continuidade a reflexão inicial o manter a “normalidade” é o que há de pior em tudo isto: Walter Benjamin afirmava que “a tradição dos oprimidos nos ensina que “estado de exceção” em que vivemos é permanente e a necessidade de construir um conceito de história que corresponda a essa verdade.”Certamente precisamos ir além de apenas construir este conceito (até porque objetivamente ele já existe).De Benjamin até os dias de hoje muita coisa mudou, sabemos em qual contexto sociológico e social a criminalidade, fome, miséria, etc. estão inseridas. A grande mídia tem um grande peso na formação de opinião apresentando um discurso “convincente” apoiado por imagens muitas vezes editadas e trabalhando fielmente por uma ideologia massacrante, excludente e acima de tudo neoliberal,inegável que avançamos em alguns pontos, mas o mercado ainda dita as regras, e inverter tal correlação de forças não depende do partido A ou B, se está no governo ou se chegou ao poder, se é reformista,revolucionário ou eleitoreiro, é preciso dialogar com a massa e contruir um movimento coletivo e organizado, invertendo , ou melhor colocando em seu devido lugar valores invertidos pela mídia, igrejas, universidades...etc.

Obs. Faltou ainda falar sobre o famoso e triste maio sangrento que rodou de colo em colo os verdadeiros culpados,mas as vítimas vivas só restou o protesto.


Saudações Humanistas.


Um comentário:

  1. Seria interessante se cruzassem esses dados com a escolaridade das vítimas. Seria muito mais interessante se somássemos os valores de todos os roubos e até mesmo a soma da tentativa de roubo de um presídio inteiro e confrontasse com os números de qualquer escândalo financeiro.

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